sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Vale lembrar - Também morre quem atira!!!


"Daria um livro por dia
sobre arte, honestidade e sacrifício."

Crônicas do Sabiá: O Tronco, o menino e o mosquitinho



Era um carnaval rançoso de 1980 e muitos. Faltavam poucos dias para o fim do verão e sobravam poucas das mais poucas almas brincando pelo Sítio do Sabiá. Para completar o tédio, o dia estava chuvoso e a televisão estava fora de operações.
Éramos cinco crianças esquecidas pela ressacas dos adultos e decidimos imaginar cenas e aventuras por aqueles gramados íngremes, pedras e troncos cobertos de limo.
A mais velha, que tinha lá por seus 15 anos, puxava o batalhão. Corríamos morro abaixo, subíamos as goiabeiras molhadas, gritávamos para ouvir o eco. Havia apenas um menino no pequeno grupo, meu irmão Pedro. Ele, sem dúvida, era o mais entediado.
A tarde começava a dar sinais de cansaço quando avistamos um tronco, quase histórico, cheios de pregos e gosmas do tempo, que lhe concediam um ar um tanto quando sombrio. Aquele foi batizado imediatamente de “O tronco da morte” e a brincadeira era simples, todos deveríamos atravessar o tronco sem cair. O último seria a mulher do padre!
Eu tive medo do tronco, naquela época, achava que não havia mal nenhum em ser a mulher do padre! Então fui a última da turma a entrar na brincadeira. A mais velha foi a primeira a cumprir a tarefa e Pedro foi logo atrás, ele não seria a mulher do padre, nem mesmo se o padre fosse uma linda loirinha mijon

Eu tinha colocado, corajosamente, meus dois pés de sete anos de idade sobre o tronco e quando vi meu irmão perder o equilíbrio e cair de joelhos sobre o tronco.

O primeiro instinto de uma irmã caçula foi a gargalhada. O Pedro riu também, enquanto tentava se levantar. Meu irmão sempre foi tão corajoso, e ele era orgulhoso. Orgulhoso demais para admitir para um bando de meninas que estava doendo, mas logo ele percebeu que não conseguiria se levantar.
- Ih, acho que tô grudado num chiclete!
- Pedro, tu tá sangrando!
- PAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII, o mano se machucou! PAAAAAAAAAIIIII! PAAAAAAAAAAAIIIIIIII!
Nesse momento, choro instalado nas quatro meninas, pais e mães de todas as casas desciam a colina aos tombos e mas o Pedro, sem uma lágrima no rosto, apenas a mão sobre o joelho. Eu seguia a suas orientação: não olhar e gritar pelo nosso pai.
Em uma operação de mais ou menos 15 minutos, meu pai retirou o meu irmão das “unhas sanguinolentas do tronco da morte” e o colocou, heroicamente, sobre a mesa de churrasco.
Eu chorava compulsivamente enquanto o médico que também passava o carnaval no sítio tentava acalmar as famílias que estavam ali a assistir a vítima do tronco.
- Tá zuzu bein, vem um mosquitinho e dá uma picadinha, daí não dói mais, fiu Petro!

É, foi nesse dia que meu irmão decidiu ser médico... e foi nesse dia que eu conheci as aroeiras e que eu entendi que heróis também sangram.

 

"One love, one blood
One life you got to do what you should.
One life with each other: sisters, brothers.
One life, but we're not the same.
We get to carry each other, carry each other.
One love! One!"

Bono Vox


Agosto - É a lua, é o sol, é a luz



Coberta de noite ela tem olhos de morte, de uma escuridão onde a vida se perde e quer mais. Pequenina e enorme, como se eu fosse um grão de areia e ela, toda a terra na imensidão do universo. E ela é terra, a firmeza dos meus pés, o descanso para meu corpo e sólida, canceriana, eterna e verdadeira.
Senhora de toda a sabedoria. De onde a cor brota pelos dedos e a massa se torna forma, conteúdo, criança e criação. Ela é a dança desritmada da vida, sem planos e conclusões, apenas a apreciação, na vertigem entre o medo e surpresa.
Ela é a vibração do tambor e a voz custosa da flauta, que convoca os Deuses e isola os ratos, porque é dela todo o tempo e o seio de toda a vida.
É nela que começa e é nela que recomeça também.
Semente, sustento, energia, glória e multiplicação... minha mãe!

 

 

"Existe alguém em nós

Em muitos dentre nós

Esse alguém

Que brilha mais do que

Milhões de sóis

E que a escuridão

Conhece também..."

 

(Caetano Veloso)

Então julho...



Tudo nessa vida está exatamente onde deve estar, porque, de paisagem a opinião, tudo começa pelo ângulo que se enxerga o ponto. Não seriam iguais, o mestre e a traça, na sua paixão pelos livros? Seria mais um dia que termina ou outra noite que se inicia?
O fato é que sempre há uma nova chance de encontrar uma verdade, basta não ficar apegado em demasia no mesmo olhar. Não há nenhuma resposta absoluta porque é da pergunta que nasce o conhecimento.
PARA TODAS AS VERDADES, EU SEPRE PREFIRO A DÚVIDA!

Hibernei até junho e ...




Nada vai tirar ela de mim.

Minha Bisa Maria!

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Homeopatia da Falta de Senso

Big Person dá início a reunião – Bem pessoal, gostaria de alinhar o entendimento sobre as Service Lines da empresa. Queria propor para que cada um fale um pouco. Junior, de que você é?

Juninho responde assertivamente – Capricórnio.
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São sete da manhã e toca o despertador. Ela se levanta, mas só porque é preciso. Caminha até a cozinha e encontra com ele.
Ela pergunta – Caiu da cama?
Ele – Perdi o sonho!
Ela – Tava comigo, era só pedir um pouco.

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Ela e a mini-Ela vão ao cinema.
Ela pede – Mini, eu vou comprando os ingressos. Toma essa grana e compra o maior combinado de pipoca e refri que tiver.
Mini no balcão – Moço, me vê um Godzila-Combo, por favor?

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Ensaio do coral de TT. Sua mãe assiste orgulhosa a prévia da apresentação do dia das mães.
Coral canta – Há Há Há Minha Machadinha....
O sorriso de orgulho da mãe se desfaz e logo termina o ensaio.
Mamãe pergunta – TT porque vocês cantavam ‘Minha mãe chatinha’, bem no dia das mães?
TT decepcionada – Ah mãe, vai procurar um médico!!!

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GG na sala de desembarque ensaia pequenos passos de samba. Female olha com insuperável cara de espanto.
- Ai amor, tô no Rio, tô malemolente!!!

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Segunda-feira, 23 de Junho de 2008

Uma carta para Deus

Não sabia exatamente como começar essa carta, mas eu precisava muito registrar algumas coisas. Comecei com um solene “Prezado Senhor”, mas achei que não se aplicava, tentei um Pai, mas não parecia legitimo porque não consigo reconhecer o grau de intimidade que temos. Então eu achei melhor adotar um devoto e digno Cara. Tudo bem, né?
Cara, o negócio é o seguinte, eu tenho mais de um milhão de motivos para querer ir embora e uns poucos e bons motivos para querer ficar por aqui e por isso acho que vale mais a pena eu poupar-Te das mais de um milhão de lástimas e focar no que é relevante a nós dois.
Eu queria começar te pedindo mais tempo. Tem algumas coisas que eu sei que preciso muito aprender, mas não sei como começar. Me dá uma força nessas? Eu preciso aprender a dizer “Não”, eu preciso ser mais paciente e definitivamente acreditar que Tu está por aqui, por ali, por aí e que Tu é O Cara. Eu preciso me preocupar menos, aliás não me preocupar com o que falam de mim e eu preciso resgatar por completo o que é eu e meu por mérito e por herança. Eu preciso dizer mais, com mais força e com mais imponência vocal ‘Eu te Amo’, ‘Eu te perdôo’ e ‘Me perdoa’, por que afinal de contas eu não sou O Cara e sou cheia de defeitos, ou melhor, cheia de oportunidades de ser melhor em muitas coisas.
Cara, eu preciso te dizer um gigante OBRIGADA pela família que me emprestastes para essa vida, não lembro das outras, mas é a melhor que eu conheço, tanto a família de sangue quanto aquela que eu fui descobrindo ao longo do caminho. Ah, se dá pra te pedir outra mãozinha, seria legal que ela encorpasse um pouquinho. A gente está pronto para receber mais gente. Aliás, a gente tá sempre pronto pra receber mais gente.
Cara, falando em família, tem uma turma que partiu. Eu queria ver se Tu tens como trazer essa galera para passear mais vezes pelos meus sonhos. Sabe como é, eu tenho saudade. Eu sei que essas são coisas muito complicadas e Tu tens outras prioridades, eu achei que vale o pedido.

De qualquer forma, talvez eu tenha esquecio de agradecer as coisas que já fazem parte da vida normal, e eu tenho reclamado um pouco demais porque as coisas para mim parecem sempre tão complicadas. A paciência já tá na lista das coisas que eu queria aprender e só voltei nesse assunto porque sei que a minha vida vai ficar mais fácil com a paciência. Se tem uma coisa que me ensinastes foi a ser perseverante, a combinação dessas coisas vai me ajudar para caramba daqui para diante. Aprendendo tudo isso e com mais tempo, eu posso te poupar um pouco de trabalho e ensinar isso a alguém.

O que Te parece? Se essa pessoa ensinar pra mais uma e essa pra mais uma, por aí vai, ficaria bem legal, quem sabe Tu também ia querer passar mais tempo conosco. Tem uma galera por aqui que precisa de Ti e não sabe onde Te encontrar.
Bem, outro assunto que eu nem ia comentar, mas tenho a impressão que por ti as coisas não passam em branco. Então, lembra daquele monte de lágrimas? Lembra daquele desespero todo? Às vezes eu também esqueço, mas já que eu lembrei, obrigada por aqueles dias. Eu viveria todos mil vezes se esse fosse o único caminho para viver os dias que vivo hoje. Parece mentira, mas foi daquele jeito que eu aprendi a amar mais os que me amam, foi assim que eu descobri todo esse amor em mim. As lágrimas secaram por conta própria, o amor cresceu forte e verdadeiro. Eu não morri de amor, foi ele que me fez e me faz viver!
Aliás Cara, obrigada pelos inesperados banhos de chuva. Obrigada pelo soluço que gera risada. Obrigada pelo abraço da madrugada. Obrigada pelas cenas de amor no aeroporto. Obrigada pelo caminho do meio. Obrigada pelo ctrl+Z. Obrigada pelas bobagens e pela criatividade. Obrigada pela história, pela sombra, pelo suco de abacaxi com morango. Cara, obrigada pela torta de limão.... acho que essa lista nunca vai terminar.
Cara, Tu é O Cara!!!!!!!!

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Quinta-feira, 19 de Junho de 2008

Bem-vinda ao Jogo


Oi pequena, sinta-se a vontade o jogo é simples e eu vou te explicar.

O jogo é longo e muito divertido, pode ficar difícil vez em quando, mas tudo passa. Aqui a gente ganha e perde pontos, não é complicado de ganhar esses pontos, nosso objetivo é gerar emoção.

Cuidado! Tem emoção boa, tem emoção ótima e tem emoção espetacular, todas essas valem pontos. Tem também a emoção ruim, essas perdem!
Às vezes as ruins são inevitáveis, a gente sente e a gente faz sentir, fica atenta e usa esses sentimentos para aprender. Aliás, nunca perde uma oportunidade de aprender. Só tem uma coisa no mundo que não se perde, aprendizado!
Coisas são legais, brinquedos são ótimos, mas as pessoas são fundamentais, então, as prefira. SEMPRE!
Não te preocupa muito com as coisas que vão dizer a teu respeito, nem as boas e nem as ruins. Te preocupa mais com as coisas que tu sabe e com as tuas opiniões, principalmente com as opiniões sobre ti mesma. Tenta não julgar demais e lembra do diabo do respeito, tu vai usar e precisar dele durante todo o jogo.
Ah, tudo que é exagerado (mesmo aquelas coisas tri gostosas, tipo docinho, bolo e refri) podem gerar problemas e podem fazer perder pontos, então, tenta manter o equilíbrio. Equilibro é ficar no 'mais ou menos', tu vai saber quando foi demais e quando foi de menos, então ouve o que o teu coração fala. Bem, não que o coração fale... vou deixar para ti descobrires o que eu quis dizer quando for a hora certa.
O jogo vai te dar muitos amigos, valorize essas pessoas, porque elas vão ser importantes. Falando em pessoas, as mais importantes são as primeiras que tu verás, assim que entrar no jogo. Eles se chamam Papai e Mamãe. Não reclama demais deles, eles estão fazendo o melhor (mesmo que pareça bobagem) e confia no que eles dizem. Eu sempre confiei nos meus e nos teus. Lembra de beijá-los quando chegar e quando sair. Faz bem e vale muitos pontos.
Tem uma turma que é muito legal, com eles, dá para garantir muitos pontos, eles se chamam Família. Eu posso até garantir que, quando tu chegar ao jogo, já vai ser muito pontuada. Eles já estão emocionados!
Tenta não sentir tanto medo. Coragem é uma coisa boa, ousadia é uma coisa não muito boa! Acredita no anjo da guarda, mas seja prudente. Se parecer muito perigoso, não vai ou pede ajuda. E não precisa ter vergonha de pedir ajuda. Vale muito a pena pedir ajuda o quanto antes, não deixa as coisas ficarem complicadas demais. É sempre pior!!
Fala sempre a verdade para a Mamãe e para o Papai, mas se for impossível, fala pra mim. Eu te ajudo!
Time de futebol já está escolhido, mas não te apega demais a ele, porque nem sempre ele te alegra. Acredita em Deus, mas pode chamar ele do que quiser. Cuida do teu corpinho, ele é tu equipamento para o jogo todo. O jogo só termina quando for a hora certa e a gente nunca sabe quando é a hora certa, é a última surpresa. Esse jogo se chama Vida.
Joga bonitinho! Brinca, curte, ama, te apaixona, te diverte, ajuda, estuda, aprende e ensina. Vai ser divertido, eu garanto!
Seja bem-vinda ao jogo, meu amor! A gente estava te esperando há muito tempo.

OBS: Eu sempre vou ter chiclete, Anne! Pode pedir para mim!

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Segunda-feira, 16 de Junho de 2008

Espada de Tandera dê-me a visão além do alcance

Não sei se existe um responsável pela criação do homem, mas se tem, Ele me fez um ser curioso. Tenho uma curiosidade louca de conhecer, de ter informação, de ouvir, de ler e de transformar o que vejo em bagagem para minha caminhada. Ao mesmo tempo, não sou uma apreciadora da exposição exagerada e das demonstrações efusivas de amor ou de ódio. Qualquer exagero leva a pieguice ou a falta de sinceridade, na minha humilde opinião.

Foi refletindo a esse respeito que eu comecei a pensar na linha tênue entre os extremos do que se sente. Como o amor e o ódio, a perseguição e o medo ou a amizade e a inimizade.
Quantas vezes a gente não criou um juízo de valor sob alguém pelo simples fato de não saber o que fazer com a frustração de não ser aquilo que ela é ou de não conhecer tudo que estava, esteve, foi e é naquele indivíduo. Acho que isso não é inveja, isso é humanidade. Inveja é o mergulho profundo na escuridão da vaidade. É o sentimento absoluto e nada efetivo de perfeição. A busca frenética pelo que é perfeito. É a eterna comparação entre o eu e o mundo. É a negação dos próprios defeitos e não reconhecer o belo do diferente de mim. É um sentimento triste, tristíssimo, porque é aprisionador.
Eu tenho um perseguidor, cruel e constante. Não sei quando a perseguição começou, sei que em determinado momento eu instiguei e hoje eu não sei o que fazer para encerrar essa infundada guerra. Se eu tivesse a borracha da história, tiraria da minha e da sua toda e qualquer conexão, mas não pelo desejo de não ter nada que comum entre nós. Eu quero acabar com esse medo que a história reverta.
Não quero voltar, eu quero seguir.
Deixa-me seguir... vejamos além das circunstâncias!
É hora de ser feliz.

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Quarta-feira, 11 de Junho de 2008

Verdade ou Conseqüência


Faz tempo que eu voltei a escrever mentalmente, mas na hora de concretizar os posts eu acabo me perdendo na loucura de Zeca Baleiro, nas alucinações de Eli Stone ou ainda na piração do Dr. House. Sempre tem alguma coisa que me ajuda a fugir de mim. O fato é que ando me esforçando para não julgar, não me abalar e não me apegar (nem nas pessoas e nem nas batalhas). A TV e a música tem sido o bálsamo silenciador da minha cabeça.

Só que ontem à noite, aconchegada no balancinho do frescão (pasme, eu comprei um carro novo, mas me divirto andando de bumba no Rio de Janeiro), eu pensava em declarações de amor. Acho que o Leoni no Ipod e as vitrines recheadas de corações me fizeram pensar a respeito.
Eu fiquei lembrando das declarações de amor que eu recebi durante minha vida, pensei naquelas que eu li e naquelas que eu presenciei. Aí tem uma coleção de escatologias, breguices, de sentimentos verdadeiros e de mentirinhas, tão engraçadas quanto tristes, mas a vida é assim, feita de momentos impagáveis, de verdades mudas e conseqüências tremendas.
Para mim, das declarações que eu conheço nenhuma pode ser mais linda do que a do Sr. Udall (Jack Nicholson) para a Carol Connelly (Helen Hunt) no memorável “Melhor Impossível” de 1997. Tem coisa mais sincera do que dizer para alguém que graças a alguém, você vem se medicando, mas não porque ela te deixa doente, porque essa pessoa te faz desejar ser melhor. O amor torna as nossas manias, obssessões e fobias mais fáceis de serem superadas ou toleradas.
É preciso muita tolerância para amar, porque não há no mundo quem não tenha um único hábito bizarro, gosto esdrúxulo e um passado, seja ele pesado ou não.
Então tolere, supere, conviva, aceite e ame tudo aquilo que faz parte da construção daquele que tu amas ou que amarás.

Ao meu amor, todo o meu respeito!

“E a gente vive junto, e a gente se dá bem, não desejamos mal a quase ninguém.
A gente vai a luta e conhece a dor, consideramos justa toda a forma de amor”

DEUS PROTEJA LULU.

 

Então veio fevereiro....

Hoje


Hoje eu quero nascer de novo
Quero ser um outro gozo
Quero uma nova chance
Hoje eu vou adiante

Hoje eu vou perder a linha
Quero pele preta e não a minha
Quero um rabo de sereia
Hoje tenho sangue novo na minha veia

Hoje eu quero ser papel
Quero desenhar o céu
Quero escrever o mundo
Hoje quero ir mais fundo

Hoje eu quero ser música
Quero ser passional e lúdica
Quero sacudir minhas asas
Hoje quero brincar com as fadas

Hoje eu vou aceitar
Vou às tuas águas navegar
Sou tua filha, linda Iá
Hoje é dia de Iemanjá.

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Terça-feira, 26 de Fevereiro de 2008

Cachorrinhos


Eu cresci numa família cheia de amor, ou melhor, amor e paixão. Sabe como é paixão, é colérica, ciumenta, possessiva e visceral. Amava-se muito, mas a ternura era pouca. Nós somos bárbaros, grosseiros, sedentos e apaixonados. Sempre que houve meiguice, ela vinha de outro lugar. A minha, mesmo que tão suave, veio da Tia Neide. Na verdade o nome dela era Neite, mas ela se chamava de Neide e eu chamava de Tia.

Tia Neide foi trabalhar na nossa casa quando eu tinha um mísero mês de idade. Ela cuidava de mim, do meu irmão, dos meus pais, da nossa casa e depois até mesmo da nossa cachorrinha com a mesma energia, mas foi para mim e para a Tina (a cachorrinha) que ela reservou um amor especial.
Tia Neide foi uma das melhores pessoas que já conheci. Religiosa, filha de Iemanjá e Ogum, dedicada à família, extremamente educada, apesar das limitações que a vida a impôs, uma grande mulher e linda. Lembro de muitas das conversas que tivemos, elas eram sempre muito divertidas. Lembro com muita saudade do sabor das suas panquecas e do feijão sem igual. De tudo que ela me ensinou, eu nunca vou esquecer.
Ela era tão boazinha com a Tina que era engraçado. Ela amava tanto aquela cachorra, que parecia o terceiro bebê da casa. A cachorrinha ganhava chá depois do almoço (pasme você!) desde que deu uns goles que meu pai beberia após a refeição. Como ela tinha grande paixão por doces, vez em quando ela ganhava um chocolatinho da Tia Neide.
Um dia eu perguntei porque tanto carinho (obviamente eu estava com ciúmes) e a resposta foi genial:
- Já falei com Deus, quando eu morrer e voltar para a terra, quero ser um cachorrinho de madame, sempre bem tratado!
Ela estava dando ao mundo o que esperava de volta!
São quase dez anos sem ela, e não tem um dia em que eu não pense nos dezenove anos que cresci ao seu lado.
Lembro como se fosse hoje da nossa última conversa. Minha mãe e eu estávamos na sala, aflitas pela demora da Tia Neide, isso não era normal. Era 1999, eu estava no meu primeiro ano de faculdade. Ela chegou desanimada, tinha desmaiado no ônibus. Já era uma senhora de mais de 70 anos, por isso, com uma enorme dor no coração, minha mãe perguntou se já não era a hora de se aposentar. Resposta, mais uma vez exemplar:
- Se eu parar de trabalhar eu morro, então só paro de trabalhar morta!
Foi assim que ela se foi, três dias depois dessa conversa.
Deste dia em diante eu trato todos os cães como ela tratou e os pássaros ainda melhor. Eu devo muito a alma que mora no corpo de um cãozinho de madame e preparo os pássaros para receberem a minha quando a minha segunda chance chegar.

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Segunda-feira, 25 de Fevereiro de 2008

Saudade de POA

Sou gaúcha, nascida e criada em Porto Alegre. Gaúcha do tipo Dorothy Gale, sabe? Daquelas que acha que a Europa é um bom lugar para visitar, que a Disney é divertida, que Floripa é ótima, mas “Não há lugar como o nosso lar”. Porto Alegre é um paraíso, o melhor lugar do mundo.
Foi numa das viradas da vida, daquelas coisas não se planeja que eu acabei abandonando meu paraíso. Desde maio de 2007, apaixonada e disposta, mudei-me para a capital Fluminense movida pelas batidas do meu coração e nesses últimos meses tenho aprendido a verdadeira definição de “saudade”.
Saudade, para o dicionário é algo parecido com nostalgia, um abatimento de profundidade situacional causada pelo afastamento de lugares, pessoas ou coisas que a gente ama. Eu diria mais, saudade é um sentimento difícil de ser definido. Muito além da tristeza que o afastamento de trás, saudade é a tolerância e o amor altruísta, porque a saudade de permite renunciar os defeitos, as falhas, as dores e os desajustes, e como eu sinto saudades dos desajustes e da falta de cor de Porto Alegre.
Porto Alegre tem uma cor esquisita de manhã, tem um ritmo semanal diferente de qualquer lugar do mundo. Porto Alegre tem uma capacidade única de transformar a idéia alheia em uma idéia própria. Porto Alegre refuta por cinco minutos o novo, e no sexto copia suave e disfarçadamente, com o brilhantismo de um gênio. Porto Alegre te exige ser melhor, ser educado, ser sensível e ser forte... só essa cidade por exigir!
Eu sinto a falta de abrir uma frestinha da janela só pra ver o que o dia me reserva. Sinto saudade do efeito cebola das 24 horas de Porto Alegre. Me faz falta os 12 meses tossindo feito um cachorro e as bandeiras vermelhas e azuis pelas janelas, nos vidros dos carros e nos comentários gerais. Eu sinto falta de receber o jornal embalado num plástico, sinto saudade de desejar bom dia a estranhos e de conhecer as pessoas pelo sobrenome.
Mesmo hoje tendo o mar a minha direita no caminho de casa, eu sinto falta do céu rosado no Guaíba no final do dia, e é só em Porto Alegre que ele vive. Sim, eu sinto falta de todos os defeitos, e das coisas perigosas de Porto Alegre, porque eu sei onde elas estão. Elas não estão em todo o lugar!
Eu sei que em Porto Alegre o sinal é sinaleira e, principalmente, que o vermelho que dizer PARE, para todo mundo. Eu gosto de saber que abrir a porta e chamar pessoas mais velhas de Senhor e Senhora é normal e digno. Eu gosto de saber por onde eu ando e gosto de reclamar do transito, mesmo que ele me custe apenas um quarto de hora.
Porto Alegre tem a teimosia da minha mãe, tem a flatulência do meu pai, a seriedade do meu irmão, o chimarrão da casa da minha avó, tem o mercado público, o parcão, o gasômetro, tem a Zero Hora e as crônicas do David Coimbra. Porto Alegre tem João Vitor, meu afilhado, que cresce rápido e pouco me conhece.
Porto Alegre tem quase todos os dias, mas principalmente domingo, um cheiro intoxicante de churrasco que sai de todos os cantos, e é barato! Porto Alegre tem churrasco de carne, salada de batata e pão de alho, no máximo uma cebola assada. Churrasco é churrasco, boi torrado com muito sal grosso, sem sushi, tomates secos e geléias de frutas exóticas.
Eu sinto saudade de xingar ouvindo o Paulo Sant’Anna e de reconhecer os radialistas pela voz e pelos rostos. Eu sinto saudades dos meus amigos que visitam a minha casa, sinto saudade de todos os defeitos da minha cidade. Porque é nela que eu plantei a minha árvore, afundei minhas raízes e montei meu caráter. Porto Alegre tem caráter e eu sinto falta de conhecer a essência das coisas, das pessoas e das histórias.
Porto Alegre, me espera, que um dia eu volto!!

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Quinta-feira, 21 de Fevereiro de 2008

Síndrome de Tourette

PUTA QUE ME PARIU, SEMPRE TEM UM FILHO DA PUTA PRA FUDER COM A GENTE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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Quarta-feira, 20 de Fevereiro de 2008

Especialidade da Casa (baseado em fatos reais)

Joana - Tu viu o filme do telecine ontem?
Alexandra - Era com o Denzel Washington, né? Não vi até o final. O que aconteceu com a guria?
Joana - Não era ele, era um outro cara que eu não lembro o nome. A guria virou atriz de filme pornô.
(vó entra na sala batendo os chinelos)
- A Rita tá fazendo filme pornô?!? Ai meu Deus do Céu!!!
Rita – Ah pronto, nem tava na conversa, vó!!!!
Tia Zu – Que canal passa filme pornô?
Rita – Não Tia, a mãe viu um filme que a atriz virou atriz pornô.
Tia Zu – Eu não vejo isso não. Coisa horrorosa!!!
Rita – Jesus amado!
– Guria Sem Vergonha, não fala o nome do filho de Deus... vamos pra igreja agora, pecadora!
Rita – Mãe, me ajuda!
– A tua mãe te ajuda nessa bandalheira! Todo mundo pra igreja, agora!!!!!!!
Artur – PQP, que gritaria é essa!!!
Tia Zu – Esse mundo tá perdido, só tem pervertido nessa casa! Imagina assistir filme pornô antes do almoço. Que canal é mesmo?
Alexandra – Alguém pode me falar como terminou o filme???
– Não filha, ela não vai terminar filme nenhum.
Rita – Tá vó, vamu pra igreja que eu já acho que to endemoniada. Se eu não for agora vou acabar matando alguém...
Alexandra– Ela morre no final? Cacete, estragou o filme...

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Terça-feira, 19 de Fevereiro de 2008

Uma carta para ela...

Querida Gabi,

Ô prima, acabei de comprar um conjunto de canetinhas. Passei horas treinando, mas asas são tão difíceis de serem desenhadas. Eu sei que elas não precisam ser simétricas, precisam ser funcionais, acho que nessa parte que eu me complico.
São dez anos da última vez que nos vimos, duro é lembrar que a última vez que nos vimos estávamos com um rombo enorme no coração. Foram dias difíceis, tão difíceis que eu até me esqueci deles. Só lembro de quanto estavas bonita, apesar de tudo.
As horas dedicadas a leituras dos teus devaneios só não são maiores das horas que dedico-me aos meus, e é nessas horas que vejo o quanto o que nos uniu segue vivo, latejante e verdadeiro. Fomos irmãs, somos iguais, somos diferentes, cheias de histórias, tragédias, gargalhadas e escatologias.
Queria mesmo encontrar uma solução para toda essa distância e descobrir o raio X que me leve a tua alma e tu a minha. Essa máquina existiu, eram os nossos olhos que se entendiam tão bem, mas como toda a máquina ela se perde com o tempo ou é superada.
As transformações são tão loucas que eu acho que estou ficando sã. Eu leio sempre que posso, mas ler me tira o sono e eu tenho estada acordada demais. Engraçado que quanto mais eu leio, mais dúvidas eu tenho. Nossa, e como é bom ter dúvidas, né? São as certezas que me deixam triste.
Nós sempre fomos cheias de convicções, algumas delas chegaram a nos torturar. Já as dúvidas nos traziam energia, elas nos levavam a procurar (procurar pelo sol).
Éramos uma “dupla de duas” e uma “turma da pesada”, lembra disso? Como a gente gostava de brincar de ser grande. Eu não quero mais brincar disso!!! Queria estar sentada naquele gramado, e segundos antes dessa maldita lágrima teimar em correr pelo meu rosto, eu queria a tua mão pra descer a colina correndo. Temo que placebo já não funcione mais, mas eu toparia o desafio agora mesmo.
Há sempre tempo, eu sei! Caso tu encontre, me avisa, acho que pode estar junto com a Barbie de botas vermelhas, que eu também não sei onde guardei.
Saudade sempre!
Beijos mil.

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Domingo, 17 de Fevereiro de 2008

Você sabe de quem estou falando?

A crítica é marca permanente em seus olhos. Ela conta histórias em que se apresenta como grande herói, solucionador de problemas, descobridor de novidades, assertiva, determinada, sem defeitos e jamais equivocada. Distribui ordens e conselhos, porque assume todas as suas premissas e conceitos como verdadeiros, únicos e provedores de sucesso.
Não aceita críticas, não assume erros, não pede perdão, não aprende, não pede ajuda, não faz valer a pena, não acredita em competências alheias. Faz escolhas erradas, terceiriza a culpa. Ama a si mesmo, mas não sabe amar de verdade... tão pouco ser amada!
Repete diariamente suas críticas, não economiza seus ouvintes. Ironicamente, copia alvos de suas críticas em busca de algum traço de personalidade... mesmo que não seja própria. Quando menos imagina, chora!
Escolhe a solidão, aceita a posição de mártir quando lhe é oportuno, acredita que agrada a todos, usa e abusa de favor, humilha quem a ama, devota-se por quem não a tolera, só por venerar em demasia a si mesma e não poder conviver com o fato de que não agrada a alguém.
Entra no banheiro, no meio de uma festa, olha-se no espelho e não acredita em nada que diz, nada que faz, na pessoa que é, no resultado de suas escolhas, no silencio torturante que vem de seu coração.
Está só, é só e para sempre será, porque mente. Mente tanto que já não sabe o que é verdade e o que ela representa. Não se aceita, mas mente! Se culpa, mas mente! Não ama, mas mente! Não é feliz, mas mente! Não tem controle, mas mente!
Completada a leitura deste, sorri um discreto sorriso, e o direciona para alguém, mas tem a plena e absoluta convicção de que é a ela quem descrevo. Mais uma vez vai dormir com o grito silencioso de sua consciência.
Boa noite!

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Sábado, 16 de Fevereiro de 2008

Me inclua fora dessa...

Não!
Não quero isso para mim!
Não posso me envolver!!
Não tenho nada a declarar!
Não faço parte...
Não, nem morta!
Não e pronto!
Não, porque não!
Não é resposta...
Não respondo!
Não, já falei!
Não!

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Cena 06 – Nova Temporada

(Sem descrição técnica)

O corpo exige que ele acorde, mas ele hesita. A iluminação é suave e ouve-se a chuva cair serena na rua silenciosa. A cama é grande, os lençóis são claros e nenhuma das três fronhas que cobrem os travesseiros combina com os lençóis.
Ainda com os olhos fechados, ele estica o braço direito e não encontra ninguém. Movimenta-se bruscamente, fita o teto e posta as mãos sobre o peito. Sua expressão é de surpresa e questionamento. [Começa solo de guitarra] Ele levanta-se e corre para a sala, a casa parece vazia. Caminha até a varanda e a encontra.
Ela está sentada no canto direito de uma pequena mesa, com a mão esquerda segura o jornal e a direita uma fatia de pão torrado. [Baixa o som]
Ela ouve os passos e, com os olhos no jornal, diz: Fiz café, tá na cozinha.
Ele ainda está sem fala, parece pasmo. Sorri aliviado e ignora o fato de vestir apenas uma cueca. Ele olha para os pés molhados dela debaixo da mesa.
Suspira e fala: Casa comigo??
Ela segue com os olhos no jornal e responde: Tá bom, mas hoje não, tem jogo do Grêmio!
Ela levanta os olhos lacrimejados, sorrindo. [Começa a música – Cover um Rain – John Mayer]
Eles se olham, ele balbucia: Te amo!!!
Ela larga o pão e o jornal na mesa e se levanta, enquanto ele caminha na sua direção. Abraçam-se e a chuva aumenta.
Na varanda ao lado a vizinha idosa sorri, e suspira, como quem assiste novela.

CENA

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CENA I

Quarto iluminado, filmagem ampla:

A porta se fecha enquanto ela está sentada na cama.

Close no rosto:

*Uma lágrima solitária cai pelo seu rosto rosado. [Ela veste calça jeans e blusa branca decotada];
*Ela respira fundo, seca a lágrima.

{Começa a música – “I’m gonna find another you – John Mayer, Continuum}

Amplia o campo de filmagem:

*Ela contempla uma sacola plástica no chão (expressão de raiva);
*Levanta-se e enfia duas camisetas na sacola;
*Joga a sacola no canto (câmera não vê a sacola).

Movimento de câmera:

*Ela vai ao banheiro, contempla o espelho;
*Escova os cabelos, pinta os olhos.

Toca o telefone, câmera segue no reflexo do espelho:

*Ela ainda olha para o espelho, sorri com ar malicioso, enquanto pinta os lábios;
*Ela sai para atender ao telefone (câmera fica com o espelho, onde se pode ver a sombra dela).

Movimento de câmera, refazendo o caminho do quarto, foca no pé (sandália vermelha):

*Ela fecha sandália;
*Levanta e pega jaqueta de couro preta, joga sobre o ombro direito e abre a porta.

Luz ofuscante vem da rua, foco da câmera em seu rosto:

*Ela sorri largamente;
*Vira-se e segue para a rua [porta se fecha].

{Encerra a música}.

CENA

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Todas de janeiro de 2008 - NINGUÉM ME TIRA!!!!!!!!

Superação

Hei você, pessoa agressiva, vingativa e oculta. Tu mesmo que joga tudo, chacoalha minha existência, bagunça e suja tudo. Me bate, me sova, me agride com toda a força e energia. Me esquece por um tempo e volta a me torturar. Me joga ao fogo, me assiste queimar.
Saiba que eu não esquecerei disso, e transformo sua energia no meu crescimento. Cresço e evoluo muito mais que tua própria expectativa, e saio disso tudo suculento, crocante e gostoso. MUITO GOSTOSO!!!!!!!!!!!!
Não esquece, disso.
Atenciosamente, O PÃO!

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Sexta-feira, 25 de Janeiro de 2008

Doze anos

Ele se preparava para começar uma série difícil, era a quinta. Fazia apenas cinco anos que ele sabia escrever, mas logo seria inquirida sobre ciência, história, multiplicação, potências, raízes quadradas... Quando isso terminaria? Sem resposta, mas era verão e ainda tinha tempo, de volta para o surfe!
Enquanto isso, em algum lugar daquela mesma cidade ela chorava pela primeira vez. Era a primeira vez que os olhos calorosos de um pai olhavam no fundo da alma de sua menina. A linda mãe se recuperava da cirurgia que a separou de sua primeira filha e um menino de pouco mais de um ano recebia o posto eterno de irmão mais velho.
Muitos verões, primaveras, outonos e invernos passaram e a evolução natural aconteceu. Era um ano de muito estudo para ambos, ele entrava na faculdade e ela começava a conhecer a arte de ler e de escrever.
O impiedoso tempo seguia seu ritmo e a evolução era constante dos lados dessa história. Ele teve muitas namoradas, muitas aventuras, muitas mancadas e diversões. Viu seu time ser campeão muitas vezes, mas seguia a vida sem a menor habilidade com a bola, o importante era que todo o time precisa de torcida e ele valia por muitos no quesito. Ela se divertiu muito, se apaixonou algumas vezes, fez amigos, enfrentou com elegância aqueles que não a apreciavam, terminou o colégio e passou no vestibular. Faltava muito pouco para eles se encontrarem pela primeira vez.
Ela usou para pura diversão aquele primeiro ano de faculdade, ele dedicava-se muito a carreira e a retomada da vida pessoal. Ambos davam início a novos relacionamentos e a vida corria sorridente e cheia de descobertas.
Ela queria trabalhar, ele precisava de mais uma pessoa em sua equipe. Telefone toca, ela tinha mais uma entrevista para ir, entrevista que mudaria sua vida... e a dele também.
Tinham recebido muitas dicas de como se comportar em uma entrevista: tu deve falar isso, não pode fazer aquilo, cuidado com a postura, quebre o gelo, seja assertiva...
Dois minutos, foi o tempo necessário. Dois minutos frente a frente e a sintonia era evidente. Piadinhas de fórum mínimo, risadas e desafios foram estabelecidos naquele momento. Apertam as mãos, estava selado o destino.
Ele se encaminha para a estação de trabalho aliviado. Quem o esperava perguntou: e aí? Resposta: Gostei dela, empenhada! Puxou a agenda e riscou o primeiro item do seu “to do list”. Ela desce as escadas segurando um sorriso, um carro a espera, a porta se abre e de lá vem à pergunta: e aí? Resposta: Gostei, divertido e inteligente. Eu tô com fome!
Sete minutos do primeiro dia, um tapa na cabeça e ela olha desconfiada, era o dia um de trabalho e o dia um de uma amizade. Ela queria aprender muito, queria revolucionar. Ele queria lhe ensinar tudo que fosse necessário (sim, necessário) e não se importaria de conhecer um pouco mais sobre ela.
Muitos meses passaram, ela aprendeu muito sobre a complicada relação corporativa, sobre moral e sobre liderança. Ele tinha estabelecido um padrão elevadíssimo como um líder, era um formador de opinião e um construtor de modelos, mas sua história por ali tinha terminado. Foi um almoço elegante, mas antes de sentarem-se para comer ele lhe contou, estava saindo, iria morar longe. A comida resistia a suas mandíbulas, ela não conseguia engolir. Mais dois dias e o adeus era definitivo, foi um longo abraço sem evitar as lágrimas, e o último olhar na porta para a rua. Ambos acharam que aquela seria a ultima vez que se veriam.
Quatro anos, ele ainda era a referencia, quatro anos ela ainda era uma amiga querida. Quatro anos daquele ultimo olhar e os olhos se cruzaram outra vez.
Ele ainda mora longe, ela não mora mais com os pais e o seu sobrenome mudou e igual ao dele.
Doze anos de histórias se acumulam entre eles, mas a partir de agora uma nova história começa.
Entre cada linha, uma linha diz “EU TE AMO".

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Guarde suas mentiras...

Mãe presente e apaixonada por seus filhos. Preocupada com a sua aparência e dedicada a carreira, mas sem muito esforço. Sua dedicação era para garantir o conforte de um cabelo bem tratado, unhas reparadas e esporádicos presentes aos que ama. Sempre recebeu bem as novidades, recebia amigos e namorados dos filhos como se fossem seus. Isso era o que o mundo via.
No silencio de seu quarto, amargava a culpa de muitos segredos, sentia em todos os ossos a claustrofobia de sua vida e sofria arduamente a sua incapacidade de contribuir nas decisões levianas de sua prole. Assistia, calada, todos os passeios de seu marido por lugares de má fama e o impacto destes floreios na formação de caráter de seus filhos, mas estava sempre linda. Viu-se nas tragédias de sua própria mãe, assumiu papeis nada nobres nos teatrais meses de sua família.
Sentia vontade de gritar, sentia vontade de chorar, mas isso estragaria a maquiagem ou poderia lhe custar mais tempo de aplicações de botox. Longas décadas se passaram, colapsos nervosos foram controlados a fim de não estragar as cerimônias de casamento dos seus filhos, e o cabelo permanecia intacto.
Ela viu nascer seu primeiro neto, e ali viu nascer uma oportunidade de redimir seus erros e os erros consentidos de seus filhos.
Ela crescia rapidamente, e era linda, quase tão lindo e perfeito quanto a criança que ela mesma tinha gerado.
A menina tinha cinco anos, quase não se movia num vestido engomado e cheio de camadas. Ninguém sabe o que o dia nos reserva, é sempre importante estar bela, assim ela entoava todas as manhãs. Passaram aquela tarde juntas, brincaram, montaram quebra cabeças, mas horas afio eram dedicadas a escovar os cabelos das 320 Barbies, combinar as botas, vestidos e bolsas. Pura diversão!
Ao final do dia, estavam exaustas, e ao longo de cinco anos, a avó estava ainda mais submergida na vida sufocante. Embora tudo em sua vida fosse patético, pouco antes do adeus, viu um limiar de seu gene transpirando nos olhos daquela menina.
Ela sentiu um calafrio, um gelar no estômago e orientou a menina:
- Queridinha, arrume sua mochila que mamãe está chegando... E guarde suas mentiras no baú da vovó!
Ali estava a sua herdeira.

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Quarta-feira, 9 de Janeiro de 2008

TEORIA DO CAOS

Estava revendo pela “enésima” vez o filme “Show de Trumann”. Inevitável não pensar em um velho e ótimo amigo.
Em uma das nós muitas, árduas e calorosas discussões filosóficas questionávamos sobre a ignorância, se ela é ou não é uma benção. Ele dizia que não, eu, mesmo sem total crença, defendia que sim. Na verdade o grande barato era discordar com ele, pois a argumentação sempre foi ótima, entusiasmada e doce, como ele.
Bem, no filme Jim Carrey é Trumann, um homem ingênuo e delicado, e a sua vida é controlada e divulgada, um grande Big Brother, mas ele não sabe disso.
Será mesmo que não sabe?
É tão evidente que a vida dele é uma perfeição plástica e artificial, e só quando a necessidade de verdade é latente é que ele começa a questionar tudo e a perceber todo o controle caótico de sua vida. É só no final do filme que ele consegue se libertar da sua ignorância, mas mesmo assim ele hesita, porque tem medo do que não conhece e do que não tem “controle”. Seria ele um prisioneiro do medo ou da total falta de curiosidade?
Somos todos extremamente sensíveis às condições iniciais, ou do meio que vivemos. Nada é linear, depende intimamente de um complexo de coisas, fatos e escolhas. O mundo é caótico, e viver é uma trajetória imprevisível, sem garantias, onde merdas e maravilhas acontecem, o que nos defini é como lidamos com elas.
Nossas escolhas diárias e contínuas fazem com que nosso mundo tenha sentido, e se escolhermos viver com as verdades que não são ditas, não é abençoado. Muitas vezes não levantamos informações ou evitamos conhecimentos e verdades por uma vida toda, ou importante parte dela, porque nos pelamos de medo que elas alterem o “sistema controlado” criado por nós mesmos. Se eu tenho medo de saber é porque já tenho o conhecimento, eu sei a resposta, e acabo por ser alvo e vítima do meu próprio medo. Caos atrai caos. Não existe defesa contra o desespero!
O engraçado disso é que, se pudermos aceitar os fatos, não haverá necessidade de “controle” (se é que isso existe!), o futuro nos trará conhecimento, espiritualidade, espontaneidade e verdade.
Bem, meus caros, o Mateus Hickmann sempre esteve certo: Conhecimento é o balsamo divino!
Então:
Saiba quem você é!
Preste atenção!
Aperte o cinto!
Valorize quem você é, aqueles que te amam e o conhecimento!
E fique pronto para a evolução e o crescimento!

“O caos é meu amigo.” Bob Dylan