sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Então veio fevereiro....

Hoje


Hoje eu quero nascer de novo
Quero ser um outro gozo
Quero uma nova chance
Hoje eu vou adiante

Hoje eu vou perder a linha
Quero pele preta e não a minha
Quero um rabo de sereia
Hoje tenho sangue novo na minha veia

Hoje eu quero ser papel
Quero desenhar o céu
Quero escrever o mundo
Hoje quero ir mais fundo

Hoje eu quero ser música
Quero ser passional e lúdica
Quero sacudir minhas asas
Hoje quero brincar com as fadas

Hoje eu vou aceitar
Vou às tuas águas navegar
Sou tua filha, linda Iá
Hoje é dia de Iemanjá.

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Terça-feira, 26 de Fevereiro de 2008

Cachorrinhos


Eu cresci numa família cheia de amor, ou melhor, amor e paixão. Sabe como é paixão, é colérica, ciumenta, possessiva e visceral. Amava-se muito, mas a ternura era pouca. Nós somos bárbaros, grosseiros, sedentos e apaixonados. Sempre que houve meiguice, ela vinha de outro lugar. A minha, mesmo que tão suave, veio da Tia Neide. Na verdade o nome dela era Neite, mas ela se chamava de Neide e eu chamava de Tia.

Tia Neide foi trabalhar na nossa casa quando eu tinha um mísero mês de idade. Ela cuidava de mim, do meu irmão, dos meus pais, da nossa casa e depois até mesmo da nossa cachorrinha com a mesma energia, mas foi para mim e para a Tina (a cachorrinha) que ela reservou um amor especial.
Tia Neide foi uma das melhores pessoas que já conheci. Religiosa, filha de Iemanjá e Ogum, dedicada à família, extremamente educada, apesar das limitações que a vida a impôs, uma grande mulher e linda. Lembro de muitas das conversas que tivemos, elas eram sempre muito divertidas. Lembro com muita saudade do sabor das suas panquecas e do feijão sem igual. De tudo que ela me ensinou, eu nunca vou esquecer.
Ela era tão boazinha com a Tina que era engraçado. Ela amava tanto aquela cachorra, que parecia o terceiro bebê da casa. A cachorrinha ganhava chá depois do almoço (pasme você!) desde que deu uns goles que meu pai beberia após a refeição. Como ela tinha grande paixão por doces, vez em quando ela ganhava um chocolatinho da Tia Neide.
Um dia eu perguntei porque tanto carinho (obviamente eu estava com ciúmes) e a resposta foi genial:
- Já falei com Deus, quando eu morrer e voltar para a terra, quero ser um cachorrinho de madame, sempre bem tratado!
Ela estava dando ao mundo o que esperava de volta!
São quase dez anos sem ela, e não tem um dia em que eu não pense nos dezenove anos que cresci ao seu lado.
Lembro como se fosse hoje da nossa última conversa. Minha mãe e eu estávamos na sala, aflitas pela demora da Tia Neide, isso não era normal. Era 1999, eu estava no meu primeiro ano de faculdade. Ela chegou desanimada, tinha desmaiado no ônibus. Já era uma senhora de mais de 70 anos, por isso, com uma enorme dor no coração, minha mãe perguntou se já não era a hora de se aposentar. Resposta, mais uma vez exemplar:
- Se eu parar de trabalhar eu morro, então só paro de trabalhar morta!
Foi assim que ela se foi, três dias depois dessa conversa.
Deste dia em diante eu trato todos os cães como ela tratou e os pássaros ainda melhor. Eu devo muito a alma que mora no corpo de um cãozinho de madame e preparo os pássaros para receberem a minha quando a minha segunda chance chegar.

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Segunda-feira, 25 de Fevereiro de 2008

Saudade de POA

Sou gaúcha, nascida e criada em Porto Alegre. Gaúcha do tipo Dorothy Gale, sabe? Daquelas que acha que a Europa é um bom lugar para visitar, que a Disney é divertida, que Floripa é ótima, mas “Não há lugar como o nosso lar”. Porto Alegre é um paraíso, o melhor lugar do mundo.
Foi numa das viradas da vida, daquelas coisas não se planeja que eu acabei abandonando meu paraíso. Desde maio de 2007, apaixonada e disposta, mudei-me para a capital Fluminense movida pelas batidas do meu coração e nesses últimos meses tenho aprendido a verdadeira definição de “saudade”.
Saudade, para o dicionário é algo parecido com nostalgia, um abatimento de profundidade situacional causada pelo afastamento de lugares, pessoas ou coisas que a gente ama. Eu diria mais, saudade é um sentimento difícil de ser definido. Muito além da tristeza que o afastamento de trás, saudade é a tolerância e o amor altruísta, porque a saudade de permite renunciar os defeitos, as falhas, as dores e os desajustes, e como eu sinto saudades dos desajustes e da falta de cor de Porto Alegre.
Porto Alegre tem uma cor esquisita de manhã, tem um ritmo semanal diferente de qualquer lugar do mundo. Porto Alegre tem uma capacidade única de transformar a idéia alheia em uma idéia própria. Porto Alegre refuta por cinco minutos o novo, e no sexto copia suave e disfarçadamente, com o brilhantismo de um gênio. Porto Alegre te exige ser melhor, ser educado, ser sensível e ser forte... só essa cidade por exigir!
Eu sinto a falta de abrir uma frestinha da janela só pra ver o que o dia me reserva. Sinto saudade do efeito cebola das 24 horas de Porto Alegre. Me faz falta os 12 meses tossindo feito um cachorro e as bandeiras vermelhas e azuis pelas janelas, nos vidros dos carros e nos comentários gerais. Eu sinto falta de receber o jornal embalado num plástico, sinto saudade de desejar bom dia a estranhos e de conhecer as pessoas pelo sobrenome.
Mesmo hoje tendo o mar a minha direita no caminho de casa, eu sinto falta do céu rosado no Guaíba no final do dia, e é só em Porto Alegre que ele vive. Sim, eu sinto falta de todos os defeitos, e das coisas perigosas de Porto Alegre, porque eu sei onde elas estão. Elas não estão em todo o lugar!
Eu sei que em Porto Alegre o sinal é sinaleira e, principalmente, que o vermelho que dizer PARE, para todo mundo. Eu gosto de saber que abrir a porta e chamar pessoas mais velhas de Senhor e Senhora é normal e digno. Eu gosto de saber por onde eu ando e gosto de reclamar do transito, mesmo que ele me custe apenas um quarto de hora.
Porto Alegre tem a teimosia da minha mãe, tem a flatulência do meu pai, a seriedade do meu irmão, o chimarrão da casa da minha avó, tem o mercado público, o parcão, o gasômetro, tem a Zero Hora e as crônicas do David Coimbra. Porto Alegre tem João Vitor, meu afilhado, que cresce rápido e pouco me conhece.
Porto Alegre tem quase todos os dias, mas principalmente domingo, um cheiro intoxicante de churrasco que sai de todos os cantos, e é barato! Porto Alegre tem churrasco de carne, salada de batata e pão de alho, no máximo uma cebola assada. Churrasco é churrasco, boi torrado com muito sal grosso, sem sushi, tomates secos e geléias de frutas exóticas.
Eu sinto saudade de xingar ouvindo o Paulo Sant’Anna e de reconhecer os radialistas pela voz e pelos rostos. Eu sinto saudades dos meus amigos que visitam a minha casa, sinto saudade de todos os defeitos da minha cidade. Porque é nela que eu plantei a minha árvore, afundei minhas raízes e montei meu caráter. Porto Alegre tem caráter e eu sinto falta de conhecer a essência das coisas, das pessoas e das histórias.
Porto Alegre, me espera, que um dia eu volto!!

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Quinta-feira, 21 de Fevereiro de 2008

Síndrome de Tourette

PUTA QUE ME PARIU, SEMPRE TEM UM FILHO DA PUTA PRA FUDER COM A GENTE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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Quarta-feira, 20 de Fevereiro de 2008

Especialidade da Casa (baseado em fatos reais)

Joana - Tu viu o filme do telecine ontem?
Alexandra - Era com o Denzel Washington, né? Não vi até o final. O que aconteceu com a guria?
Joana - Não era ele, era um outro cara que eu não lembro o nome. A guria virou atriz de filme pornô.
(vó entra na sala batendo os chinelos)
- A Rita tá fazendo filme pornô?!? Ai meu Deus do Céu!!!
Rita – Ah pronto, nem tava na conversa, vó!!!!
Tia Zu – Que canal passa filme pornô?
Rita – Não Tia, a mãe viu um filme que a atriz virou atriz pornô.
Tia Zu – Eu não vejo isso não. Coisa horrorosa!!!
Rita – Jesus amado!
– Guria Sem Vergonha, não fala o nome do filho de Deus... vamos pra igreja agora, pecadora!
Rita – Mãe, me ajuda!
– A tua mãe te ajuda nessa bandalheira! Todo mundo pra igreja, agora!!!!!!!
Artur – PQP, que gritaria é essa!!!
Tia Zu – Esse mundo tá perdido, só tem pervertido nessa casa! Imagina assistir filme pornô antes do almoço. Que canal é mesmo?
Alexandra – Alguém pode me falar como terminou o filme???
– Não filha, ela não vai terminar filme nenhum.
Rita – Tá vó, vamu pra igreja que eu já acho que to endemoniada. Se eu não for agora vou acabar matando alguém...
Alexandra– Ela morre no final? Cacete, estragou o filme...

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Terça-feira, 19 de Fevereiro de 2008

Uma carta para ela...

Querida Gabi,

Ô prima, acabei de comprar um conjunto de canetinhas. Passei horas treinando, mas asas são tão difíceis de serem desenhadas. Eu sei que elas não precisam ser simétricas, precisam ser funcionais, acho que nessa parte que eu me complico.
São dez anos da última vez que nos vimos, duro é lembrar que a última vez que nos vimos estávamos com um rombo enorme no coração. Foram dias difíceis, tão difíceis que eu até me esqueci deles. Só lembro de quanto estavas bonita, apesar de tudo.
As horas dedicadas a leituras dos teus devaneios só não são maiores das horas que dedico-me aos meus, e é nessas horas que vejo o quanto o que nos uniu segue vivo, latejante e verdadeiro. Fomos irmãs, somos iguais, somos diferentes, cheias de histórias, tragédias, gargalhadas e escatologias.
Queria mesmo encontrar uma solução para toda essa distância e descobrir o raio X que me leve a tua alma e tu a minha. Essa máquina existiu, eram os nossos olhos que se entendiam tão bem, mas como toda a máquina ela se perde com o tempo ou é superada.
As transformações são tão loucas que eu acho que estou ficando sã. Eu leio sempre que posso, mas ler me tira o sono e eu tenho estada acordada demais. Engraçado que quanto mais eu leio, mais dúvidas eu tenho. Nossa, e como é bom ter dúvidas, né? São as certezas que me deixam triste.
Nós sempre fomos cheias de convicções, algumas delas chegaram a nos torturar. Já as dúvidas nos traziam energia, elas nos levavam a procurar (procurar pelo sol).
Éramos uma “dupla de duas” e uma “turma da pesada”, lembra disso? Como a gente gostava de brincar de ser grande. Eu não quero mais brincar disso!!! Queria estar sentada naquele gramado, e segundos antes dessa maldita lágrima teimar em correr pelo meu rosto, eu queria a tua mão pra descer a colina correndo. Temo que placebo já não funcione mais, mas eu toparia o desafio agora mesmo.
Há sempre tempo, eu sei! Caso tu encontre, me avisa, acho que pode estar junto com a Barbie de botas vermelhas, que eu também não sei onde guardei.
Saudade sempre!
Beijos mil.

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Domingo, 17 de Fevereiro de 2008

Você sabe de quem estou falando?

A crítica é marca permanente em seus olhos. Ela conta histórias em que se apresenta como grande herói, solucionador de problemas, descobridor de novidades, assertiva, determinada, sem defeitos e jamais equivocada. Distribui ordens e conselhos, porque assume todas as suas premissas e conceitos como verdadeiros, únicos e provedores de sucesso.
Não aceita críticas, não assume erros, não pede perdão, não aprende, não pede ajuda, não faz valer a pena, não acredita em competências alheias. Faz escolhas erradas, terceiriza a culpa. Ama a si mesmo, mas não sabe amar de verdade... tão pouco ser amada!
Repete diariamente suas críticas, não economiza seus ouvintes. Ironicamente, copia alvos de suas críticas em busca de algum traço de personalidade... mesmo que não seja própria. Quando menos imagina, chora!
Escolhe a solidão, aceita a posição de mártir quando lhe é oportuno, acredita que agrada a todos, usa e abusa de favor, humilha quem a ama, devota-se por quem não a tolera, só por venerar em demasia a si mesma e não poder conviver com o fato de que não agrada a alguém.
Entra no banheiro, no meio de uma festa, olha-se no espelho e não acredita em nada que diz, nada que faz, na pessoa que é, no resultado de suas escolhas, no silencio torturante que vem de seu coração.
Está só, é só e para sempre será, porque mente. Mente tanto que já não sabe o que é verdade e o que ela representa. Não se aceita, mas mente! Se culpa, mas mente! Não ama, mas mente! Não é feliz, mas mente! Não tem controle, mas mente!
Completada a leitura deste, sorri um discreto sorriso, e o direciona para alguém, mas tem a plena e absoluta convicção de que é a ela quem descrevo. Mais uma vez vai dormir com o grito silencioso de sua consciência.
Boa noite!

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Sábado, 16 de Fevereiro de 2008

Me inclua fora dessa...

Não!
Não quero isso para mim!
Não posso me envolver!!
Não tenho nada a declarar!
Não faço parte...
Não, nem morta!
Não e pronto!
Não, porque não!
Não é resposta...
Não respondo!
Não, já falei!
Não!

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Cena 06 – Nova Temporada

(Sem descrição técnica)

O corpo exige que ele acorde, mas ele hesita. A iluminação é suave e ouve-se a chuva cair serena na rua silenciosa. A cama é grande, os lençóis são claros e nenhuma das três fronhas que cobrem os travesseiros combina com os lençóis.
Ainda com os olhos fechados, ele estica o braço direito e não encontra ninguém. Movimenta-se bruscamente, fita o teto e posta as mãos sobre o peito. Sua expressão é de surpresa e questionamento. [Começa solo de guitarra] Ele levanta-se e corre para a sala, a casa parece vazia. Caminha até a varanda e a encontra.
Ela está sentada no canto direito de uma pequena mesa, com a mão esquerda segura o jornal e a direita uma fatia de pão torrado. [Baixa o som]
Ela ouve os passos e, com os olhos no jornal, diz: Fiz café, tá na cozinha.
Ele ainda está sem fala, parece pasmo. Sorri aliviado e ignora o fato de vestir apenas uma cueca. Ele olha para os pés molhados dela debaixo da mesa.
Suspira e fala: Casa comigo??
Ela segue com os olhos no jornal e responde: Tá bom, mas hoje não, tem jogo do Grêmio!
Ela levanta os olhos lacrimejados, sorrindo. [Começa a música – Cover um Rain – John Mayer]
Eles se olham, ele balbucia: Te amo!!!
Ela larga o pão e o jornal na mesa e se levanta, enquanto ele caminha na sua direção. Abraçam-se e a chuva aumenta.
Na varanda ao lado a vizinha idosa sorri, e suspira, como quem assiste novela.

CENA

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CENA I

Quarto iluminado, filmagem ampla:

A porta se fecha enquanto ela está sentada na cama.

Close no rosto:

*Uma lágrima solitária cai pelo seu rosto rosado. [Ela veste calça jeans e blusa branca decotada];
*Ela respira fundo, seca a lágrima.

{Começa a música – “I’m gonna find another you – John Mayer, Continuum}

Amplia o campo de filmagem:

*Ela contempla uma sacola plástica no chão (expressão de raiva);
*Levanta-se e enfia duas camisetas na sacola;
*Joga a sacola no canto (câmera não vê a sacola).

Movimento de câmera:

*Ela vai ao banheiro, contempla o espelho;
*Escova os cabelos, pinta os olhos.

Toca o telefone, câmera segue no reflexo do espelho:

*Ela ainda olha para o espelho, sorri com ar malicioso, enquanto pinta os lábios;
*Ela sai para atender ao telefone (câmera fica com o espelho, onde se pode ver a sombra dela).

Movimento de câmera, refazendo o caminho do quarto, foca no pé (sandália vermelha):

*Ela fecha sandália;
*Levanta e pega jaqueta de couro preta, joga sobre o ombro direito e abre a porta.

Luz ofuscante vem da rua, foco da câmera em seu rosto:

*Ela sorri largamente;
*Vira-se e segue para a rua [porta se fecha].

{Encerra a música}.

CENA

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